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16 de nov. de 2008

Violência na escola: o que está acontecendo?

O crime de vandalismo ocorrido em uma escola pública na Zona Leste de São Paulo, me fez refletir sobre o assunto.
O que está acontecendo?
A violência no âmbito escolar não é novidade. Lembro-me de atos de vandalismo na minha época de ginásio e colegial (atuais Ensino Fundamental II e Ensino Médio). Vasos sanitários eram explodidos no banheiro, pedaços de carteiras eram arremessados sobre o professor, material escolar destruído...mas eram ações pontuais, realizadas por um ou outro aluno, controladas e punidas pela direção da escola. A maioria dos alunos não era participante e respeitava o corpo docente.
O que vemos hoje é diferente. Em uma das muitas reportagens que lí sobre o assunto foi dito que as crianças/adolescentes apenas se apropriam dos meios utilizados na sua casa ou na comunidade em que vivem para resolver seus conflitos na escola. E acredito nessa teoria. E que conflitos são estes?
Conversando com meu filho de 14 anos sobre o ocorrido ele disse que não sabia o motivo do vandalismo, mas tinha certeza que os alunos estavam se sentindo injustiçados por algo. Por diversas vezes ele reclama da atitude de seus professores, algumas vezes com razão outras sem, mas em todas as vezes resolve seus conflitos através do diálogo. E não por acaso é o diálogo que ele encontra em casa. O que reforça a minha crença nessa teoria da apropriação do meio de resolução de conflitos pelos alunos.

Injustiçados

Nada justifica o vandalismo ocorrido nessa escola em São Paulo, mas precisamos pensar no preparo (ou na falta dele) por parte dos professores para lidar com seus alunos. Há muito tempo que a função do professor ultrapassa a da mera escolarização, é preciso educar nossas crianças, ainda que fosse esperado que essa educação venha de casa.
Sair das quatro paredes da sala de aula, trabalhar com projetos, com assuntos que possam despertar o interesse dos alunos, trabalhar com temas dentro da realidade daquele grupo, permitir a liberdade de expressão, incentivar o pensamento crítico e antes de tudo saber ouvir.
Sei que existem professores que lutam por uma escola mais moderna que utilize esses recursos, mas já diz o ditado: Uma andorinha só, não fez verão. É preciso a vontade de todos os envolvidos nesse processo.
Se você éprofessor pense nisso, pense em como mudar a realidade da sua escola a partir de sua atitude e de seus colegas diante dos alunos.

E para pensar mais um pouquinho vai de presente para vocês o Decálogo do Bom Professor:
Em 09 de fevereiro de 2009, recebi um e-mail do *Prof. Vicente Martins, de Fortaleza, que apesar de elogiar meu texto, reinvidicou de forma inflamada a autoria do Decálogo, além de fazer críticas severas à minha pessoa. O mesmo conteúdo foi deixado na forma de comentário que poderá ser lido no fim deste post. Como a intenção não foi plagiar, uma vez que não assumo sua autoria, mas divulgar um excelente texto recebido por mim através de um grupo de discussões, para os mais de 12 mil leitores do blog, optei por deixar aqui os devidos créditos ao invés de retirar esse trecho do texto que pode ser útil para a reflexão de muitos educadores.
Por: Prof. Vicente Martins*
  1. Aprimorar o educando como pessoa humana - A nossa grande tarefa como professor ou educador não é a de instruir, mas a de educar nosso aluno como pessoa humana, como pessoa que vai trabalhar no mundo tecnológico, mas povoado de corações, de dores, incertezas e inquietações humanas. A escola não pode se limitar a educar pelo conhecimento destituído da compreensão do homem
    real, de carne e osso, de corpo e alma. De nada adianta o conhecimento bem ministrado em sala de aula, se fora da escola, o aluno se torna um homem brutalizado, desumano e patrocinador da barbárie.
    Educamos pela vida como perspectiva de favorecer a felicidade e a paz entre os homens.
  2. Preparar o educando para o exercício da cidadania - Se de um lado, primordialmente, devemos ter como grande finalidade do nosso magistério o ministério de fazer o bem às pessoas, fazer o bem é preparar nosso para o exercício exemplar e pleno da cidadania.O cidadão não começa quando os pais registram seus filhos no cartório nem quando os filhos, aos dezoito anos, tiram suas carteira de identidade civil, a cidadania começa na escola, desde os primeiros anos da educação infantil e se estende à educação superior, nas universidades; começa com o fim do medo de perguntar, de inquirir o professor, de cogitar outras possibilidades do fazer, enfim, quando o aluno aprende a fazer fazer, a construir espaço de sua utopia e criar um clima depaz e bem-estar social, política e econômico no meio social.
  3. Construir uma escola democrática - A gestão democrática é a palavra de ordem na administração das escolas. Os educadores que atuarão no novo milênio devem ter na gestão democrática um princípio em que não arredam pé, não abrem mão.Quanto mais a escola for democrática, mais transparente. Quanto mais a escola é democrática, menos erra, tem mais acerto e possibilidade de atender com eqüidade as demandas sociais.Quanto mais exercitamos a gestão democrática nas escolas, mais no preparamos para a gestãoda sociedade política e civil organizada.Aqui, pois, reside uma possibilidade concreta: chegar à universidade e concluir um curso de educação superior e estar preparado para tarefas de gestão na governo do Estado, nasprefeituras municipais e nos órgãos governamentais. Quem exercita a democracia em pequenas unidades escolares, constrói um espaço próprio e competente para assumir responsabilidades maiores na estrutura do Estado. Portanto, quem chegaà universidade não deve nunca descartar a possibilidade de inserção no meio político e poder exercitar a melhor política do mundo, a democracia.
  4. Qualificar o educando para progredir no mundo do trabalho - Por mais que a escolaqualifique seus recursos humanos, por mais que adquira o melhor do mundo tecnológico, pormais que atualize suas ações pedagógicas, era sempre estará marcando passo frente às novas transformações cibernéticas, mas a escola, através de seus professores, poderá qualificar o educando para aprender a progredir no mundo do trabalho, o que equivale a dizer a oferecer instrumentos para dar respostas, não acabadas ( porque a vida é processo inacabado) às novas demandas sociais, sem medo de perdas, sem medo de mudar, sem medo de se qualificar, semmedo do novo, principalmente o novo que vem nas novas ocupações e empregabilidade.
  5. Fortalecer a solidariedade humana - É papel da escola favorecer a solidariedade, masnão a solidariedade de ocasião, que nasce de uma catástrofe, mas do laço recíproco e cotidiano ede amor entre as pessoas. A solidariedade que cabe à escola ensinar é a solidariedade que nãonasce apenas das perdas materiais, mas que chega como adesão às causas maiores da vida, principalmente às referentes à existência humana. Enfim, é na solidariedade que a escola pode desenvolver, no aluno-cidadão, o sentido de suaadesão às causas do ser e apego à vida de todos os seres vivos, aos interesses da coletividade eàs responsabilidades de uma sociedade a todo instante transformada e desafiadapela modernidade.
  6. Fortalecer a tolerância recíproca - Um dos mais importantes princípios de quem ensina e trabalha com crianças, jovens e adultos é o da tolerância, sem o qual todo magistério perde osentido de ministério, de adesão aos processos de formação do educando.A tolerância começa na aceitação, sem reserva, das diferenças humanas, expressas na cor, no cheiro, no falar e no jeito de ser de cada educando. Só a tolerância é capaz de fazer o educador admitir modos de pensar, de agir e de sentir que diferente dos de um indivíduo ou de grupos determinados, políticos ou religiosos.
  7. Zelar pela aprendizagem dos alunos - Muitos de nós professores, principalmente os do magistério da educação escolar, acreditam que o importante, em sala de aula, é o instruir bem, o que pode ser traduzido, ter domínio de conhecimento da matéria que ministra aula. No entanto, o domínio de conhecimento não deve estar dissociado da capacidade de ensinar, defazer aprender. De que adiante e conhecimento e não saber, de forma autônoma e crítica,aplicar as informações?O conhecimento não se faz apenas com metalinguagem, com conceitos a, b ou c, e sim, comdidática, com pedagogia do desenvolvimento do ser humano, sua mediação fundamental. O zelo pela aprendizagem passa pela recuperação daqueles que têm dificuldade de assimilar informações, sejam por limitações pessoais ou sociais. Daí, a necessidade de uma educação dialógica, marcada pela troca de idéias e opiniões, de uma conversa colaborativa em que não se cogita o insucesso do aluno. Se o aluno fracassa, a escola também fracassou. A escola deve riscar do dicionário a palavra FRACASSO. Quando o aluno sofre com o insucesso, também fracassa o professor. A ordem, pois,é fazer sempre progredir, dedicar-se mais do que as horas oficialmente destinadas ao trabalho e reconhecer que nosso magistério é missão, às vezes árdua, mas prazerosa, às vezes semrecompensa financeira condigna que merecemos, mas que pouco a pouco vamos construindo a consciência na sociedade, principalmente a política, de que a educação, se não é panacéia, é o caminho mais seguro para reverter as situações mais inquietantes e vexatórias da vida social.
  8. Colaborar com a articulação da escola com a família - O professor do novo milênio deveter em mente que o profissional de ensino não é mais pedestal, dono da verdade, representante de todos os saberes, capaz de dar respostas para tudo. Articular-se com as famílias é a primeiramissão dos docentes, inclusive para contornar situações desafiadoras em sala de aula. Quanto mais conhecemos a família dos nossos alunos, mais os entendemos e mais os amamos.Uma criança amada é disciplinada. Os pais, são, portanto, coadjuvantes do processo ensino-aprendizagem, sem os quais nossa ensinança fica coxa, não vai adiante, não educa. A sala de aula não é sala-de-estar do nosso lar, mas nada impede que os pais possam ajudar nos desafios da pedagogia dos docentes nem inoportuno é que os professores se aproximam dos lares para conhecerem de perto a realidade dos alunos e possam juntos, pais e professores, fazer aaliança de uma pedagogia de conhecimento mútuo, compartilhado e mais solidário.
  9. Participar ativamente da proposta pedagógica da escola - A proposta pedagógica nãodeve ser exclusividade dos diretores da escola. Cabe ao professor participar do processo de elaboração da proposta pedagógica da escola até mesmo para definir de forma clara os grandes objetivos da escola para seus educandos. Um professor que não participa, se trumbica, se perde na solidão de suas aulas e não tem como pensar-se como ser participante de um processo maior, holístico e globalizado. O mundoglobalizado para o professor começa por sentir-se parte no seu chão das decisões da escola,da sua organização administrativa e pedagógica.
  10. Respeitar as diferenças - Se de um lado, devemos levantar a bandeira da tolerância,como um dos princípios do ensino, o respeito às diferenças conjuga-se com esse princípio, de modoa favorecer a unidade na diversidade, a semelhança na dessemelhança. Decerto, o respeito às diferenças de linguagem, às variedades lingüísticas e culturais, é a grande tarefa dos educadoresdo novo milênio.O respeito às diferenças não tem sido uma prática no nosso cotidiano, mas, depois de cincoséculos de civilização tropical, descobrimos que a igualdade passa pelo respeito às diferenças ideológicas, às concepções plurais de vida, de pedagogia, às formas de agir e de ser feliz dosgêneros humanos.O educador, pois, deve ter a preocupação é reeducar-se de forma contínua uma vez que nossa sociedade ainda traz no seu tecido social as teorias da homogeneidade para as realizaçõeshumanas, teoria que, depois de 500 anos, conseguiu apenas reforçar as desigualdades sociais.Nossa missão, é dizer que podemos amar, viver e ser felizes com as diferenças, pois, nelas, encontraremos nossas semelhanças históricas e ancestrais: é, dessa maneira, a nossa forma dedizer ao mundo que as diferenças nunca diminuem, e sim, somam valores e multiplicam osgestos de fraternidade e paz entre os homens.

Pense nisso, professor...

Será que você segue esse decálogos à risca? O que falta para ser um bom professor?


2 comentários:

  1. Denise,

    Ou sentem injustiça ou são incentivados a senti-la,pois a cultura actual estimula os jovens a serem rebeldes sem causa...

    Mas é na forma como os professores a escola relacionam-se com os alunos que está a prevenção e reacção aos seus comportamentos.
    Eles necessitam de sentirem-se respeitados e com prazer em aprender para o futuro da sua vida...

    O código de conduta do professor é a base geral de como ele pode ser um elemento fundamental na estrutura educativa.
    Em Portugal agora muitas manifestações de professores e alunos estão acontecendo,rejeitando propostas governamentais.

    Abraço amiga,
    joao

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  2. Olá, bom dia.

    Deambulando na Internet, deparei com seu excelente texto Violência na escola: o que está acontecendo? , datado de Sábado, 15 de Novembro de 2008. Nele traz importante reflexão sobre a violência na escola, todavia ao fazer referência ao "Decálago do Bom Professor" não respeita os créditos de autoria de Vicente Martins.

    Quem traz discussão educacional e se diz educadora deve, no mínimo, ter conduta ética, seja dentro ou fora da escola. Portanto, a sra, no meu entender, para se dizer boa educadora deve praticar a decência e a boa ética, respeitar o que é dos outros.
    Particularmente, fico feliz quando vejo que minhas idéias têm alguma utilizade na internet, todavia quando vejo situação de plágio, sofro, fico decepcionado com esse tipo de educação. A sra, portanto, me decepciona!E muito!

    Existe uma violência pior do o plágio, do que se ferir o principio de respeito às idéias de outrem?


    Boa sorte no seu trabalho, educadora!


    Vicente Martins/Fortaleza

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