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23 de abr. de 2010

Castigo. Essa prática funciona?

Quando eu era criança não fui flor que se cheirasse, aprontei bastante. Houve época em que o castigo estava quase incorporado na minha vida. Eu estava sempre de castigo. As punições variavam, o mais comum era ficar sem ver televisão e ficar proibida de ir à casa dos amigos e ao playground (eu morava em prédio). Confesso que esses castigos nunca impediram que eu aprontasse, na verdade eu pensava que se fizesse tal coisa e minha mãe descobrisse, ficaria de castigo, e fazia mesmo assim. Aos poucos fui aprimorando a arte de fazer o que não devia, sem ser descoberta, mas mais cedo ou mais tarde, algo dava errado e estava eu de castigo novamente.

Eu acredito que maus comportamentos devem ser punidos. Punir prepara para a vida, afinal vivemos em um mundo assim, ainda que muitos criminosos estejam impunes, mais cedo ou mais tarde, de algumas forma somos cobrados por nossos atos. O que precisa ser repensado é o tipo de punição. Para isso é necessário entender porque colocamos a criança de castigo. Qual é o objetivo de castigar?
Partindo do princípio que não somos masoquistas, castigamos com o objetivo de educar, de ensinar que determinado ato ou comportamento não é adequado.

Sendo assim, simplesmente proibir a criança de fazer o que gosta, por proibir, não funciona. Com meus filhos
os castigos em sua maioria tinham um fundo educativo, claro que às vezes era mais fácil proibir a tv ou o computador...também não sou perfeita!

Primeiro avalio se o ato ou comportamento inadequado foi cometido conscientemente. Digo isso porque às vezes a criança apenas reproduz algo e não imagina que seja proibido, arriscado, inadequado. Neste caso, não merece punição, merece explicação.

Em certa ocasião, meu mais velho, na época com uns 13 anos, foi pego por mim cabulando aula. Foi tudo armado com antecedência, ele deixou uma muda de roupa escondida na garagem do prédio, saiu uniformizado para a aula, se trocou e por azar foi visto por mim nas proximidades de casa. Na hora fiquei irada, minha vontade era de socá-lo, pois percebi a armação em função das trocas de roupa. Perguntei o que estava fazendo, ele disse que iria ao boliche com os amigos, pois na escola não haveria aula, uma vez que estávamos no fim do ano. Perguntei com que dinheiro ele iria ao boliche e ele disse que um amigo ia pagar. A situação me preocupou, mandei-o de volta para casa e disse para ficar trancado no quarto de castigo. Ponto!
Eu estava saindo para fazer uma prova e não podia pensar em mais nada. Na volta refleti sobre o quanto ele aprenderia sobre o problema de cabular a aula / aceitar dinheiro dos amigos ficando trancado no quarto. Quando cheguei, respirei fundo e conversamos.

Ele sabia que era errado cabular aula, sabia que era errado me enganar, mas não entendia o problema de aceitar dinheiro do amigo. Expliquei que se ele tivesse me contado que não haveria aula, apenas a apresentação de um filme e que ele não queria ir, que eu o teria deixado ficar em casa e ainda se tivesse comentado sobre o boliche eu daria o dinheiro para ele ir (não se antes checar com quem!). E todo esse problema não existiria. Explique à ele que estava preocupada pois às vezes jovens são persuadidos a fazer coisas "legais" por supostos amigos e no final terminam como deliquentes. Um programa legal pago por um "amigo" pode ser a porta de entrada para uma série de pequenos delitos, pode ser a porta de entrada para o mundo das drogas. E essa era minha real preocupação. Será que ele saberia dizer não, na hora certa?
Depois de uma longa conversa sobre o assunto o castigo foi definido. Nada foi cortado, nada foi proibido. Entreguei à ele um livro, teria uma semana para ler e depois discutiríamos o assunto, tratava-se de Eu, Christiane F., 13 anos, drogada e prostituída.... O resultado foi positivo, não cabulou mais aula e hoje com 21 anos tem uma ótima cabeça, opinião própria e não segue o que os outros dizem. Resultado da minha decisão? Nunca vou saber, mas mal não fez!

Retirar um objeto de desejo da criança ou proíbí-la de fazer o que gosta apenas elimina o comportamento indesejado (às vezes momentaneamente!), a longo prazo não educa, não ensina. Essa é a opinião de Maria Guimarães Drummond Grupi, psicóloga e pedagoga, em matéria sobre o assunto, na revista Crescer e compartilhada por mim. Há quem pense o contrário, alguns psicólogos acreditam que punir tomando um objeto de desejo, funciona. E na prática é exatamente isso que a maioria dos pais faz: Mais da metade dos pais já confiscou o celular para punir os filhos afirma uma recente pesquisa.

Usei a minha vivência para mudar, pelo menos em algumas situações, a forma do castigo, educar dá trabalho, mais do que paciência exige criatividade e em tempos de vida tão corrida, às vezes não sobra espaço para ser criativo.

3 comentários:

  1. Eu acho essa questão muito complexa: depende da idade da criança/adolescente, do que foi feito, do tipo de castigo, da resposta da criança, do nível de nervosismo dos pais no momento, vixe, de tanta coisa... Mas, a história relatada pela Denise me trouxe à memoria um momento emblemático vivido com a minha filha , hoje, adulta. Estava brava com ela por uma série de mentiras (naquele tempo ainda não sabia que mentira de criança é normal, outro assunto legal)e resolvi que ela não teria festa de aniversário naquele ano. O castigo exagerado e totalmente sem sentido, desvinculado completamente da ação, saiu da boca sem passar pela cabeça num momento de raiva. Mas, como tinha falado, ficou. Passada a raiva, percebi que o castigo estava sendo também pra mim. Como eu estava sofrendo por deixá-la sem festa, imagine ela! Como era um absurdo mesmo, voltei atrás. Conversei com ela e reconheci que era um castigo sem sentido. No dia do aniversário, dei de presente uma cachorrinha de pelúcia chamada Dade: de verdade, de sinceridade, de lealdade, várias palavras significativas terminadas em dade, que escrevi num bilhetinho. Passado um tempo, ouvi na redação uma colega dizendo que estava chateada com a filha e não faria festa de aniversário. Eu disse: "Não faça isso!" Contei a história e conversamos a respeito. Depois da festa da filha, ela me agradeceu pelo alerta. Duas crianças salvas de castigos sem sentido pensados por duas jornalistas estressadas...

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  2. Nossa, MUUUUUUUUUUITO BOM o texto. Adorei, mesmo, você tratou o problema de uma forma muito boa e criativa. Muito bom mesmo, adorei seu blog :)

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  3. Parabens pelo texto e pelos comentarios que foram feitos.
    Otimo blog
    Sucesso!

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