Assim que nasce, ainda na sala do
parto, é realizada a primeira ação de saúde ocular na criança, sendo pingada uma
gota de nitrato de prata para prevenir doenças oculares graves que possam causar
cegueira. Mesmo assim, o acompanhamento dos pais é fundamental para o
desenvolvimento de uma visão saudável. “Existem 40 milhões de cegos no mundo e
pelo menos metade poderia estar enxergando se tivesse recebido socorro
imediato”, diz o doutor Renato Neves, oftalmologista e diretor-presidente do
Eye Care
Hospital de Olhos, em são Paulo.
Neves afirma que os pais devem
prestar atenção a alguns sinais que indicam necessidade urgente de levar a
criança até uma clínica oftalmológica. “Alguns bebês apresentam conjuntivite
logo nos primeiros dias de vida. Além da vermelhidão, a doença provoca dores que
o neném certamente denunciará através do choro. Outros sinais que merecem
atenção especial são: presença de mancha branca na pupila; incômodo na presença
de luz; e lacrimejamento constante. Ainda que tenham dúvidas, os pais não devem
esperar que o problema se resolva sozinho”.
Outro aspecto
importante da visão dos bebês é que eles têm muito menos habilidade em
reconhecer imagens em movimento quando comparados aos adultos. “Estudos
comprovam que a experiência visual dos recém-nascidos chega a ser dez vezes mais
lenta que a dos adultos. Os bebês não nascem com as habilidades visuais que vão
precisar ao longo da vida. Gradualmente, é o cérebro que passa a usar a
informação visual para desvendar o mundo”, diz o especialista.
Mesmo em
adultos, o cérebro tem uma capacidade limitada para absorver todas as
informações em movimento. Normalmente, uma pessoa não consegue absorver as
mudanças quadro a quadro que ocorrem mais rápido do que 50 ou 70 milésimos de
segundos. Em crianças com idade entre seis e 15 meses, esse tempo cai para meio
segundo, mais ou menos. “Isso justifica, por exemplo, por que os programas
infantis devem usar a linguagem visual numa velocidade compatível à percepção
das crianças pequenas. Caso contrário, tudo o que verão são manchas e borrões
coloridos”.
Fotografias também podem revelar doenças oculares
Há casos clássicos em que os pais só descobriram que o filho
tinha grave doença ocular depois de prestar atenção às suas fotos. Nesse caso,
quando um dos olhos traz um brilho avermelhado, comum em fotos com flashes, e o
outro tem um brilho amarelo ou esbranquiçado, o sinal de alerta deve ser
acionado.
“Um brilho diferente pode ser sinal de retinoblastoma – um tipo
curável de câncer de retina – como também de infecções congênitas como a
toxoplasmose, malformações da retina, presença de diferença de graus ou miopia e
astigmatismo acentuados. Uma em cada 80 crianças apresentará esse tipo de brilho
em um ou em ambos os olhos. O importante é saber que em 80% dos casos é possível
tratar a doença e evitar a perda da visão”, diz Neves.
O especialista alerta sobre a importância do diagnóstico precoce
do retinoblastoma, que pode causar cegueira quando não diagnosticado e tratado a
tempo. “Trata-se de um tipo de câncer que se desenvolve a partir das células da
retina. Apesar de raro, pode levar à perda da visão ou ainda ser fatal. Quando
diagnosticado precocemente, é um câncer que pode ser destruído, preservando-se o
olho tanto quanto possível. Em casos mais graves, a retirada do olho é uma das
medidas tomadas para que a doença não evolua, se espalhando para outras partes
do corpo. A participação dos pais no diagnóstico precoce dessa doença é
fundamental, já que geralmente são os primeiros a notar algo estranho no olhinho
da criança através das fotografias”.
Ambliopia: doença é mais comum do que se pensa
Os problemas visuais afetam uma em cada 20 crianças em idade
pré-escolar. E a ambliopia é um dos problemas mais comuns – devendo ser tratada
o quanto antes para que a criança tenha oportunidade de se desenvolver
normalmente. “A ambliopia não é um problema nos olhos propriamente, mas uma
desordem nos neurônios que controlam a visão. As causas mais comuns são o
estrabismo (quando os olhos não estão alinhados) e a anisometropia (quando o
cérebro é incapaz de balancear a diferença no poder de refração dos dois olhos e
acaba escolhendo o mais fácil de usar)”, diz Neves.
De acordo com o oftalmologista, na maioria dos casos a ambliopia
é tratável, mas o sucesso do tratamento depende do nível da visão inicial, da
idade da criança, e do tempo de ambliopia. “Basicamente, o tratamento consiste
em ‘forçar’ o cérebro a usar o olho não preferido. É bastante desconfortável no
início, já que a criança usará um tampão no olho que enxerga melhor e será
forçada a ver tudo com o seu ‘pior’ olho, mas é nessa fase que as chances de
sucesso são maiores. Uma vez que o cérebro esteja maduro, ele não pode mais ser
estimulado”.
Fonte: Prof. Dr. Renato Neves, médico
oftalmologista, diretor-presidente do Eye Care Hospital de Olhos, em São
Paulo – www.eyecare.com.br
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