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15 de set. de 2014

A adultização e a banalização da infância

A infância é o período mais importante de nossas vidas e nela que são forjados nossos princípios, nosso caráter, é o período onde podemos errar e acertar sem medo e dessa forma construímos aquele que seremos no futuro.

A brincadeira tem um papel fundamental nesse momento que é a de permitir que a criança crie situações e aprenda gradualmente. Independente da fase da infância que ela se encontre, serão muitas as brincadeiras em que irá reproduzir o modelo do adulto e isso ajudará no seu amadurecimento sadio. Quando etapas da infância são puladas essa criança vai aprender no contexto real e os prejuízos podem ser muitos. Insegurança, imaturidade, fuga, violência...

O que observamos hoje é a adultização e a banalização da infância. Esse assunto já foi tratado aqui por diversos pontos de vista dois exemplos são os textos Como evitar a adultização da meninas e Crianças sem tempo para brincar, mas o que me motivou a escrever novamente sobre o tema foi uma publicação que apareceu na timeline do Facebook sobre um ensaio fotográfico feito pela Vogue Kids, que despertou a indignação de algumas pessoas por colocar as crianças em poses sensuais. O resultado é que ministério público foi acionado e a justiça mandou recolher a edição da revista alegando que a publicação viola o princípio da "proteção integral à criança previsto pela Constituição".

Imagem: Campanha contra abuso infantil da Prefeitura de Fortaleza

O responsável é o responsável!

Não pretendo iniciar uma caça às bruxas e encontrar um culpado para esse caso específico, mas levantar uma discussão sobre o assunto, usando esse caso e outros, como exemplo.

A revista publicou as fotos, mas antes disso acontecer alguém autorizou a pauta, um outro alguém cuidou da produção, um outro alguém fotografou e os pais dessas crianças concordaram com tudo isso. Todas as pessoas envolvidas não viram problema na publicação, caso contrário ela não teria acontecido. Esse é o ponto!

Peguemos um outro exemplo recente. A campanha Stop the Beauty Madness, criada pela escritora Robin Rice, com o proposito de questionar os padrões de beleza e que convocava as mulheres a publicarem fotos sem maquiagem. Foram inúmeras as crianças que participaram da "campanha"! Oi??? 

Sim, para essas crianças, embora não entendessem o motivo da campanha (muitos adultos também não entenderam!), fazia todo sentido publicar uma foto sem maquiagem, pois se maquiar com 9, 11, 13 anos, faz parte do cotidiano delas. Elas vão maquiadas para a escola, e não estou falando só de um gloss para evitar rachadura nos lábios, vão maquiadas com direito a sombra, rímel, lápis, batom e tudo mais. Maquiar-se não é uma brincadeira, é o normal. E então eu pergunto, quem comprou essa maquiagem, quem permite que ela saia de casa para a escola com o rosto pintado?

Mais um exemplo? Esse é mais antigo, que tal crianças com menos de 10 anos que ganham de presente celulares ultra modernos? Quando tiverem 15 vão querer ganhar o quê? Um carro?

A adultização e a banalização da infância começa dentro de casa. Existe uma inversão de valores. Com 10 anos a menina vai maquiada para a escola, mas não consegue arrumar a própria cama. Com oito anos o menino carrega um mega celular, mas precisa da mãe para se limpar no banheiro. Existe também uma preguiça em olhar para os filhos e prestar atenção ao que estão fazendo. Com 12 anos a menina publica fotos sensuais nas redes sociais e a mãe chora em rede nacional quando são compartilhadas por pedófilos.

As campanhas contra o abuso infantil, como a da imagem usada nesse post, discursam que quando isso ocorre a infância é perdida, e é verdade. Acontece que muitas crianças, eu arriscaria dizer que uma maioria, perde um pouco da infância sem mesmo passar pelo que foi convencionado chamar de abuso infantil. É um abuso velado, que passa despercebido e pior é aceito como uma condição normal e sendo assim não gera campanhas, nem mobilização da sociedade. Criar crianças dá trabalho, faz pensar e exige dedicação por parte de quem cria.

Do jeito que as coisas caminham estão fabricando uma geração de adultos neuróticos, problemáticos, fúteis e até certo ponto infantis. É gratificante quando percebemos que nosso filhos cresceram, amadureceram, mas isso precisa acontecer gradualmente. Não precisamos ter pressa para que se tornem adultos, precisamos sim, fazer com que se tornem adultos capazes de viver uma vida de adulto plena, que tenham consciência de seus direitos e deveres e lembrar que quando isso acontecer e da forma que acontecer, não tem volta.

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